sábado, 12 de janeiro de 2008

Loura ilusão

Muito obrigada a todos que têm lido este blog.
Agradeço, principalmente, àqueles que têm feito críticas, positivas e negativas, ao meu trabalho.
Quem, verdadeiramente, ama a literatura está sempre buscando se aperfeiçoar.
Esse feedback rejuvenesce as veias!

Loura ilusão

Meus pensamentos tortuosos
Inflamam a toda hora
É cerrado em mim
E tudo é seca

Nas minhas galerias,
Busco o que ainda há por dentro,
Além dessa imensidão de extratos
Que não dizem nada.

Naturalmente infértil,
Esse nós não alimenta o mundo
Somos apenas a víscera, da víscera, da víscera
Comida e carcomida pelo nosso jeito-destruição

Mesmo almejando o fim,
A morte me protege da total ausência
E essa nossa coisa sazonal
Vem de volta
Como se nunca tivesse sido soterrada
Pela nossa acidez.

Não há ipês amarelos com coroas de flores a seus pés
Nem promíscuas caliandras.
Só o campo sujo.
Lá, o passado já é alimento
Pro beijo da chama
E nós? Nós somos algo de belo,
Que talvez esteja morto,
Talvez, esteja apenas quebrado;
Mas que está escurecendo.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Perdendo a virgindade


Fiquei pensando se chocava logo os meus leitores com uma das minhas poesias ilícitas. Afinal, os comentários foram tão agradáveis e todo mundo sabe que o Brasil não lê poesia.
Ainda mais, poesia-não bonitinha- não meiga- não alisa saco.
Mas resolvi acreditar no meu público e postar Perdendo a virgindade. Escrevi esse poema em 2004, mas o modifiquei levemente em 2007.

O poema é indicado para leitores putos, desiludidos, ásperos, ressentidos e vítimas de conquistadores manipuladores.

A foto é da Flora Egecia (
egecia@gmail.com), assim como a do template do blog.



Perdendo a virgindade

A verdade
É que eu não sou a virgem pura
Que lhe pareço ser.

Este mundo já me fodeu tanto
Que seria uma puta hipocrisia
Dizer o contrário.

Mas foi só agora,
Que percebi todo esse sangue,
Já seco e duro,
Quebrando o lençol.

Tanto vermelho!
Já vinho,
Já negro...
Me faz crer que pereci
De agudas dores.
Mas, na hora,
Eu nem senti.

Acho que foi isso
Que o fez voltar todas as noites:
A minha ignorância.

Sinto muito, meu amor,
Mas eu não sou mais sua inocente prostituta.
Agora,
Eu dou porque quero.


Patrícia Colmenero,
A Medusa impune.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Verborragia inaugural

Responsabilidade x controle

Deixando fluir, depois controlo este texto.

“sou uma mulher madura
que às vezes anda de balanço

sou uma criança insegura
que às vezes usa salto alto

sou uma mulher que balança
sou uma criança que atura”
Martha Medeiros

Leva-se um tempo para se perceber que a Terra já gira sozinha, que ela não depende de mim para que os dias persistam em vir e vir.
Nunca compreendi a dicotomia entre controle e responsabilidade. Dicotomia para mim, como o bem e o mal; pois, quando vislumbro um, o outro some como o lado escuro de um planeta.
E o meu satélite só captura um lado por vez.
Captar com os olhos essas duas imagens metafísicas ao mesmo tempo é um eterno aprendizado de vida. E eu sou grosseira iniciante na lição de confiar que Aquele que fez todo o universo também é capaz de me guiar pelas ardilosas horas sem que eu me estabaque numa parede e contemple o meu rosto sangrento.
Entre um beco e outro, descobri que essas duas entidades são muito diferentes. Uma, corroboração e a outra é corrosiva. Terrível fazer definições, mas o humano não escapa delas: a responsabilidade é a consciência de que posso e devo contribuir. O controle é apenas loucura, blasfêmia opressiva, a demente tentativa de mandar no vento.
Meu último desejo para o resto da vida: ser vitória e fracasso num mesmo dia de tédio ou glória. Poder me reconhecer no espelho, sempre uma só face_ feliz e descontente, mas esperançosa a todo o tempo.
A agendinha de couro registra todas as obsessões. A cada semana, um plano perfeito para sobreviver à angústia, à falta do que fazer, ao medo da solidão. Mas eu estou cansada de projetos. Ainda mais dos projetos magistrais! Porque eles só me dão a rápida ilusão de que eu posso controlar tudo o que me envolve. Logo, estou novamente absorvida pelo meu sazonal desespero e total falta de perspectiva.
Por isso, não quero precisar me viciar em alguma coisa só porque ela, às vezes, funciona e me enche da satisfação que, enlouquecidamente, busco. Quero ter prazer e vivê-lo, mas sem abandonar a consciência de que não posso controlar a sua duração ou a sua freqüência.
Quero ter a humildade de me deixar levar pelos movimentos de rotação. De, na verdade, admitir que foram eles quem sempre me levaram.
Tenho problemas com os meios. Adoro começos, adoro finais. Acho ótimo que as coisas acabem. Quem leria um livro interminável? Eu certamente não. Não faz parte da minha personalidade que aprecia se desligar, que se deleita com um fechamento, que só gosta das coisas porque tudo pode acabar um dia, então devemos aproveitar agora. Também amo inícios. Tantas expectativas! Tantas surpresas por vir! Mas os meios são somente o trabalho, o não-compreender-ainda, o não-estar-pronto, o não-poder, o não-ser. É a pressão das metades que me aniquila! O miolo da existência é cru.
É no meio-tempo que me perco.
Seria tão melhor ser companheira do acaso, respeitá-lo e admirá-lo.
Seria tão melhor ser grata pelo imprevisto, pelo menos, eu fujo do enfadamento.
Ser grata pelo enfadar, pelo menos, eu fujo da mania de euforia.
Ser grata por estar eufórica, pelo menos, eu me sinto viva!
Uma ode ao descontrole!
Mas aí me vem essa fome de viver, de sanar a vida, de não sentir tanto e de sentir em absoluto. E toda boa intenção amarra-se a si mesma num saco de lixo e esgota-se apenas no verbo.
Eu corro três vezes mais rápido do que qualquer um (e isso me faz sentir melhor, especial e digna de amor); mas, de repente, minhas pernas ficam exauridas e meus tornozelos torcem para me impedir de continuar.
Então, preciso esperar três vezes mais que qualquer um e, quando retorno à corrida, é como se estivesse no mesmo lugar, ao lado das mesmas pessoas que tinha deixado para trás. Como no ponto de partida outra vez. Como quando eu não havia se quer tentado. Então, nada mais vale a pena.
Uma parte mais visceral e desbocada de mim teria a coragem de perguntar: como aprender a ser normal? Mas não falo nada, só sinto e calo, sinto. E sinto na medida em que busco me anestesiar do sentimento. Sou ser reativo e não racional. Tenho minha própria espécie.
Mas desejo, e desejo ardentemente, não precisar, de tempos em tempos, de bolinhas brancas, e depois brancas e achatadas, depois coloridas e ovais, depois líquidas, depois esfareladas, depois sem gosto de nada, sem cheiro de nada, sem barulho de nada, sem formato de nada...do Nada.
Penso até que os momentos de ansiedade me ligam com a pessoa que sou: necessidades, gente, carnes e peles, ossos alvos. Mas, também, me levam a acreditar que sou enferma do veneno que gerei no próprio ventre e, disso, não há cura.
Tento encontrar esse ponto obtuso que chamo de meu desafio de vida, mas logo me vejo vítima do outro extremo: um entusiasmo patológico, que se olvida de que sou apenas carcaça ambulante, mas me pinta majestosa e ENORME.
Permuto-me toda.
A escancarada e opaca verdade é que a minha doença é medo de rejeição. Tenho receio de ser quem sou e não me amarem e apreensão de ser quem não sou e me amarem. Temo as máscaras e a abstinência delas. Como uma penélope, teço e desteço as fantasias que me faço na espera de um ulisses, que julgo ser, não uma pessoa, mas um final feliz, uma derradeira alegria.


Mesmo a mosca que, incessantemente, bate no vidro, até ela se move de lugar e, entre erros e acertos, um dia sai de seu cárcere.