segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Verborragia II

“Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento..."
Clarice Lispector


A vida é fluida. E o estreito nunca se fez parte dela.
A rodela fina de uma definição-delgado-naco-de-idéia não preenche o vácuo oco da experiência de existir. Nada que diga “é” pode ser. Porque o encerrar em quadros já mostra que há algo além da delimitação.
E os restos são grande parte.
Não confiar nos contornos é um bom conselho. Muda a postura do sol e eles se rearranjam. Novos para-sempres medrando a cada espasmo do astro rei. A verdade ligada à realidade, a realidade ligada aos sentidos, os sentidos ligados a um amassado de hidrogênio pegando fogo! Eis que se apresenta toda sabedoria do mamífero que usa calças.
Não há eternidades nos dias – apesar do inadiável continuar deles. Tudo morre com a troca da lua. E com o sono: o grande aspirador histórico.
Não há concretude, nem retos, nem por aquis, nem alis. É só um largo descobrir.
Mas me deito no tálamo e me roço com o tempo. Obtuso amante. A carne imatéria. E diante de sua língua esguicho penso todo o entendimento. Porque me preocupo. Por que procuro eixo. Porque viver não ultrapassa. Eriço os pêlos e sonho com o instante que pára num gozo interminável.