segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Verborragia II

“Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento..."
Clarice Lispector


A vida é fluida. E o estreito nunca se fez parte dela.
A rodela fina de uma definição-delgado-naco-de-idéia não preenche o vácuo oco da experiência de existir. Nada que diga “é” pode ser. Porque o encerrar em quadros já mostra que há algo além da delimitação.
E os restos são grande parte.
Não confiar nos contornos é um bom conselho. Muda a postura do sol e eles se rearranjam. Novos para-sempres medrando a cada espasmo do astro rei. A verdade ligada à realidade, a realidade ligada aos sentidos, os sentidos ligados a um amassado de hidrogênio pegando fogo! Eis que se apresenta toda sabedoria do mamífero que usa calças.
Não há eternidades nos dias – apesar do inadiável continuar deles. Tudo morre com a troca da lua. E com o sono: o grande aspirador histórico.
Não há concretude, nem retos, nem por aquis, nem alis. É só um largo descobrir.
Mas me deito no tálamo e me roço com o tempo. Obtuso amante. A carne imatéria. E diante de sua língua esguicho penso todo o entendimento. Porque me preocupo. Por que procuro eixo. Porque viver não ultrapassa. Eriço os pêlos e sonho com o instante que pára num gozo interminável.

18 comentários:

Anônimo disse...

Sentir Clarice e por entre ela fluir...é o mesmo que socar o próprio estômago..até sentir o que a vida realmente é.
Achei interessante o texto que você reincorporou,ganhando de uma citação outras dimensões.
É um prazer estar agora ao seu contato..para dividir esse mistério louco e preciso que a arte nos traz.

Raisa. disse...

Clarice circunda nossas veias e ainda sorri no final do baile, encantou-me há muito tempo, deixo que se perpetue.

O gozo é sempre finito, verde, nojo moral, não há como partir, gosto da doçura das tuas palavras, mas não acredito em nenhuma delas, mentiras açucaradas, enfim gostei. No entanto prefiro sempre o sabor de quem corta a própria carne e oferece aos porcos, desculpe.

Boa sorte, menina. Nesse país não há como viver de palavras, aliás nessa esfera todas as pessoas preferem a superficialidade.

=*

Anônimo disse...

O foda de querer ser livre é sair voando e depois de voar bastante perceber-se lá embaixo, olhando pra cima, sentindo falta de alguma coisa.
Esse é meu momento do dia...

Anônimo disse...

Muito profundo...
realmente nossa existência é algo bizarro. E o nosso conhecimento tão limitado. E o pior é que insistimos em achar que sabemos quase tudo quando na verdade não sabemos nem se o 1% que sabemos é verdadeiro ou real.
Pensar nisso dá nós na cebeça. Mas é bom viajar e pensar que existe muito mais do que a nossa filosofia pode enxergar...

A Clarice é do mal. Gosto dela!

beijos

Everaldo Ygor disse...

Olá!

Instigante introdução com a imortal Clarice...
A vida é um gozo, eterno em seu momento...
No momento da prosa, da poesia, do efemero tempo todo...
Escrevemos assim, sujeitos ao DEus Cronos, impares como deve Ser...
Abraços
Everaldo Ygor

http://outrasandancas.blogspot.com/

Lucas Pereira Caixeta disse...

Clarice era uma pessoa complexa. Mas um gênio com o que escrevia... de forma quase que única (pelo que vejo, até onde lí).
Viver é uma arte... as vezes, cheia de contornos.

Ótimo o que voce disse sobre "Eriço os pêlos e sonho com o instante que pára num gozo interminável." ... são por sonhos de prazer futuros que a humanidade caminha, se impulsiona (bom, nem todos sonham e nem todos vão conseguir o seu momento, mas é quase isso hehe).

Beijos e até a próxima leitura =D

Duda Bandit disse...

eu não confio em contornos...

Carla Ventura disse...

Eu tô em Londres! Uhuuu! É, resolvi tudo em menos de uma mês. Dia 26 de dezembro, pra ser mais exata :P

Helena de Oliveira disse...

A carne imatéria. Deveria ser o título. Mas não ouso mudar nada que leio aqui. Suas palavras sempre me ganham, flor.


Beijo docinho para você coisa linda!

Igor Reale disse...

Voce vomita palavras tão bem quanto Clarisse...Incrivel, como é dificil para os outros escritores se livrarem da pretensão e da regra e simplesmente vomitarem palavras e emoções nos seus leitores

Anônimo disse...

Minha querida, o troglodita mor está de volta...heheheh (eu não claro, pq não sou nada daquilo que escrevo, mas mesmo assim o sendo...hehehhe) complexo, mas enfim....

Meu, você já chegou chutando com a epigrafe, que por sinal, é o que dá sentido ao texto, ou seja, entender é a única coisa que não precisávamos. Ótimo!

O texto - é impressionante como você mudou. As palavras, você está escolhendo a dedo, deixando o texto mais trabalhado... gostei de mais disso, desse cuidado de sair do lugar comum, de ver o texto trabalho mesmo. Show!

Outra coisa, você andou lendo Hilda? Tem coisa que é dela, exemplo, "naco". Se estiver lendo mesmo, realmente, está valendo a pena.

As imagens que tem no texto são boas, gostei bastante, anda surtando legal e é assim mesmo, mas cuidado! Tem coisa demais, vale a pena ler e tirar o excesso.

É isso... curti, curti mesmo.

Anônimo disse...

Acredito que seja o melhor texto do blog. Bom, já comentei de minha preferência por prosa 'contaminada' de expressões sinistras/subversivas.
Gosto de texto assim mesmo: nu e cru e fedido a sêmen-em-clitóris (essa mistura deve ser de um aroma inefável em plenitude).
Amplexo,
B.

Unknown disse...

segura!!
ta fervendo!!
impressionante o fato de mensagens globais e subliminares serem expostas tão intensamrnte...
showw!
;***

Anônimo disse...

Eae!
Não sei se entendi(hehe), mas alguma coisa eu captei!
Senti um quê de pearl jam aqui: "Eis que se apresenta toda sabedoria do mamífero que usa calças".
;D

=**

menino sabido disse...

Tem tudo a ver com a Peyton.

Anônimo disse...

Eita nóis, sabia que tinha dedo de Hilda no meio. Muito bom, se aproprio legal....curti.

Realmente, o post da Clarice foi por causa do seu...hehehehe, só que do meu jeito troglodita particular de ver as coisas....hehehehe.

E assim vou escrevendo, e me divertindo.... ow, mas não escreva para agradar ninguém não viu.

Nelson Rodrigues depois de ter sua peça Vestido de Noiva elogiada por Manuel Bandeira, escrever uma peça muito ruim, pq ficou querendo só agradar o Bandeira. Até que ele sacou que o estilo dele é um, as pessoas gostando ou não.

Bjão!

Unknown disse...

"Não confiar nos contornos é um bom conselho"
Brilhante como sempre, Paty!
=D

quesacoterquecriarconta disse...

O tempo, o tempo, o tempo e suas águas inflamáveis, esse rio largo que não para de correr, lento e sinuoso...

o melhor sempre, sonhar com pequenos instantes.