segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Finalmente, consigo dormir só com o dia de hoje nas costas

Acabei de ver o primeiro episódio do novo seriado da HBO: Alice.
A garota com tudo já disposto: futuro marido, casa, filhos, morte: resolve esquecer dos planos, da estrutura, para poder brotar outra vez – segundo nascimento na sua já velha vida. Essa noviciada da ansiedade assentou em mim um gosto de passado. A necessidade de espasmos, de eclipses e show de fogos. Tudo no mesmo dia. Um distúrbio por mudança compulsiva. Meu TOQ. A cada segundo – uma novidade, uma necessidade, uma fome. Por isso, fiz a tatuagem. Os dois ramos de flores. Um em cada lado dos meus ossos do quadril. Gêmeos. Os extremos. Na força da mulher: suas ancas. Fiz para me lembrar de controlar as patrícias que batem convulsas por dentro. Mas é claro que eu ainda quero viver outras dez vidas nesta! Porque essa sou eu: imortal e esgotada, incansável e sonolenta. Mas, dessa vez, não tenho a urgência do pretérito. Vontade de já ter vivido, para ter espaço pra mais. Não é que cansei de sempre vir a ser. É que não compactuo mais com os sapatos batendo rápido no asfalto. Não creio mais no ritmo que se forma da respiração acelerada tentando se fazer palavra. Só não lembro mais o que é desejar a frígida outridade. Tenho ficado satisfeita com o som da minha voz. Não corro mais do tempo. Espero – para não perdê-lo passando. Incorporo uma paz que se confunde com manifestação xiita. É uma iluminação militante. Finalmente, consigo dormir só com o dia de hoje nas costas.

Obrigado a todos que lêem o blog e que comentam aqui. Isso, sem dúvida, é uma força extraordinária para prosseguir. Porque fazer literatura é arte de resistência. Mas não vou muito longe sem alguém que me acompanhe. É um prazer conhecer vocês.

Na foto, Tamires Alcântara. Minha modelo para o livro que estou preparando de fotos e frases. [Aguardem] Fotógrafa: Clarissa Gianni.

19 comentários:

C. disse...

"Além de tudo, Clarice tinha insônia, o que eu acho que é a maior insígnia dos solitários. "
É, concordo. hahahaha.
Então, sobre o template ajudo sim, explico com detalhes, se tiver msn, pode me adicionar: carlaborges@cbgb.net e te explico on line!
Bem, sobre seu post você citou um ponto pelo qual temo todo santo e bendito dia: o tempo. Ao contrário de você, Paty, morro de medo deste. E principalmente dos "males" supérfluos - ou não - que ele causa. Nos meus textos relato bem este medo, que particularmente não consigo deixar, ou é ele quem não me deixa.
Ótimo post, ótimo mesmo. E não monitore seu ''exagero'', hoje em dia, poucas pessoas mostram o real, a verdade, o exagero, a hipérbole da alma que transparece em nossa estética, em nosso corpo, em nossos gestos.
Um beijo grande.

Comentador Fiel disse...

Tenho insônia também, só que no meu caso é causada pela Medicina. Durmo 3 horas diárias em média. Paradoxal não, eu estudo pra curar e não consigo curar minha falta de sono?

Para mim uma mudança é essencial, mudar de sonhos, afinal um homem sem sonhos é um homem morto.

E a tatuagem deve ter ficado legal, pelo menos o local foi bem encaixado com o sentido.

Anônimo disse...

Linda modelo, muitos compram o livro pela capa, eu ainda tenho esse mau. rs

Daniel Seixas disse...

Dormir só com os dia de hoje nas costas. Viver o hoje.
Eu precisava fazer mais isso, mas não é nada fácil. Querendo ter a possibilidae de concretizar sonhos futuros, acabamos encarcerando o presente. E quando finalmente alcançamos o desejado já começamos a pensar além disso e esquecemos de disfrutar do que conseguimos. A famosa rat race.
É tenso pra sair dela.

Anônimo disse...

seu texto me lembrou que também quero fazer uma tatuagem: um beija-flor, símbolo deliberdade, nas costas, símbolo da fraqueza humana. Sempre considerei as costas o ponto fraco dos homens, sempre. E sobre escrever um livro, bom, eu já pensei nisso, mas não me considero tão apta a fazê-lo.

Eu vi num comentário seu pra Raisa sobre um projeto de mulheres artistas e fiquei interessada! Não que eu ache que eu possa participar, mas fiquei curiosa pra saber como que é :)

Beijos=***

O Profeta disse...

Olhos brilhantes maré tardia
Cabelos rebeldes em desalinho
Pés descalços no, frio barro
Um berlinde atirado ao caminho

Um bando de alegres pardais
Ou um domador de tempestades
Apenas um pássaro charlatão
Dividindo o pão em metades


Vem mergulhar com os Capitães do Calhau


Mágico beijo

felipemaia disse...

Eu não diria nem em viver somente o hoje. Eu diria em viver somente o momento tão presente que se passa um segundo já é passado!
Só isso já basta!
E ainda sim é muito!

Barba Ruiva disse...

Deveríamos viver no mundo dos ansiosos e poder trocar com quem quisesse de costume, de trabalho, de língua, de vida.
Trocar e seguir adiante atrás de novas coisas para se fazer.

Roses disse...

"dormir só com o dia de hj nas costas"
acho q foi a frase q prendeu...
eu ainda caminho pra isso... ou não, fica só no imaginário mesmo. ainda preciso do sapato correndo no asfalto e ainda insisto em quebrar o silêncio, tranfrmar tdo em palavra, racionalizar. sentir o q eh quieto incomoda. mas q lendo deu vontade de caminhar rápido pra isso, ah deu!

Anônimo disse...

confesso q pago pau pra vc =)
dpois de 2 meses sem entrah no blog, eu entro e tenho uma alegria enorme de ler seus textos de novo!!
como jah te disse, e continuo dizendo, sou uma leiga, mas entendi tudo q vc escreveu dessa vez!!
bjim, patinha!!

Polly Ana disse...

Olá, Paty, estoy de volta! Interessante comod e maneiras diferentes, escrevemos algo parecido, meu último post "A Garota" tb fala sobre isso, só que de uma outra abordagem, mais cadavérica, diríamos. ser hipérbole é difícil, até hj não sei lidar com todas que me rasgam por dentro, umas querem meu bem, outras querem me machucar... Concordo com a Rose, gostei muito mesmo da imagém do sapato no asfalto, fez-me lembrar muito de Dorothy, sim, aquela personagem do Mágico de Oz que habitou nossa infância, menina que batia incessantemente seus sapatos com o intuito de lá fugir, de habitar um mundo seu...

Pedro Ivo disse...

Parece ser uma necessidde constante essa de mudar de ares, de rumo, de vida. é como se a gente nunca estivesse satisfeito - e não está. Dormir com o dia de hoje, somente, na cabeça? Que raridade... Mas esse já é um bom começo. E que bom que você já consegue fazer isso e tamém já encontra sua paz, meio guerreira, mas paz. Isso lembra um pouco o que escrevi no meu último post, "Branco Pálido". uma paz assim que se encontra, mas gera outras perdas.
Então penso nos vários pedros e outros ivos... É gente demais procurando seu espaço no meu interior! Um dia de cada vez, vc diz com propriedade.
Ah! também quero de uma tatuagem!

Polly Ana disse...

Pergunta: A foto disponibilizada será a da capa mesmo?!

Tham disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tham disse...

olha, é a primeira vez que passo aqui e estou realmente encantada com seu modo de escrever *-*

depois se puder falar mais do livro, serei grata ;}

virei fãn já, volto sempre o/

beijo,*

Raisa. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Raisa. disse...

Então Patrícia MUITO obrigada MESMO pelos teus elogios quanto aos meus escritos, sinto-me muito bem lendo teus comentários, fato. Mas, sinto decepcionar-te, não sou de longe uma mulher corajosa, talvez a fuga da loucura é que me seja impossível, apenas.

Eu acho que tornei minha dor uma coisa um pouco cristalina, ao menos nos textos, e acho também que entendes bem, a cristalização-da-minha-dor-prostituida.

Ah, o nome do texto é "o quinze" porque a frase que o precede é o romance da Rachel de Queiroz, este que se chama "o quize", haha.

Gostaria de ser imortal, mas estou como tu : "esgotada e sonolenta", suprimi o incansável porque não consigo mentir, estou definitivamente muito cansada. Eu gosto do som estúpido da minha voz e evito colocar sapatos para caminhar no asfalto, sinto um dó de estragar a realização material representada por eles, ando descalça, às vezes. É bom poder conhecer, é sempre bom, apesar dos traumas e das tragédias que se absorve. Enfim, prossiga com as tuas palavras e boa sorte nos projetos.

beijo.

Bruna Pereira disse...

Nossa, quem me dera dormir tanquila todosos dias, aliviada...
Pior, não durmo e fico acordada pensando por horas...isso um dia ainda vai me matar.
A série "Alice" é boa?
Fiquei até com vontade de ver =]

Anônimo disse...

Gorda, saudades de vc animal!!!
Qdiferenca? Sinto sua literatura crindo asa, evoluindo!!!
Teus textos tao arrasando!!!
Orgulho DEMAIS!!!
bjooos