domingo, 17 de fevereiro de 2008

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

Como estou enlouquecendo com a falta de grana e a falta de emprego, tenho escrito pouco. Então, aí vai um texto de 2004, de uma outra fase literária que eu tive. Fiz Como cordas de amaranto após ver Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças.

Como cordas de amaranto

Sim e nós estragamos tudo. Isso, se foi Tudo, o que sobrou além do oco de nós dois. Nós pisamos na rosa, de fato; você arranhou o meu rosto e eu te vi em outro, é fato. Mas, e aí? Você conhece o meu passado, eu te contei, e ele voltou a acontecer mesmo, não é? Eu sei das suas manias, das suas neuras estúpidas e dessa sua melancolia natural, e aí? Agora, sabemos que vai dar tudo errado mesmo, que eu vou me encher de você e ...você, você vai ter pena de olhar para mim. É o nosso futuro, meu amor, e o nosso presente. Somos sábios neste momento, o sabemos. Ei, futuro, o sabemos!

Minha alça, a alça da bolsa, caiu hoje. Lembrei de você, é a nossa lembrança mais bonita: o dia em que a alça da minha mochila gasta caiu e você a segurou. Segurou a alça, meu bem, e não a deixou cair. Foi lindo para mim. Você se lembra, querido? Tudo bem, acho que é uma coisa minha mesmo, não é? Afinal, tem as coisas só minhas e as coisas só tuas, não é?


Depois daquela tarde no seu carro, eu comecei a te cheirar por aí, sabe? Sentir seu cheiro em todo lugar...seu perfume é comum? Acho que não é por causa disso, né, meu querido? Besteira achar explicação. E agora esse vento frio fica entre nós: que crime! Depois de tudo, deixamos que algo ocupe o precioso espaço entre mim e você.

Você não acha que esses anos passaram rápido? Tão rápido...nem deu para sentir...qual é o seu nome mesmo? Brincadeira, eu até sei seu telefone, a marca da sua cueca, há quantos anos você comprou o seu computador usado... mas isso tudo deslizou numa pista muito lisa e eu nem vi passar. Não me lembro do gosto do seu beijo, mas era bom, gostava muito. Eu contei: 444 beijos! Podíamos ter dado mais, não?

E essa corrente de ar que varre o meu peito é o abanar das asas do silêncio, meu amor. Tão forte e tão alto que já deduzi sua freqüência.

É como se nunca tivesse acontecido, você sente isso? Como se eu não tivesse te beijado, como se você não tivesse me procurado no meio da multidão, como se fôssemos estranhos...como se nunca tivéssemos atentado para o fato de que estávamos vivendo. Mas, sei lá, porque diabos você tinha de ser tão triste, tão taciturno, sempre? Você nem sequer se empolgou com o meu prêmio. Não quis sair para comemorar. Porque? Eu não merecia isso, que você se importasse? Nunca me elogiou, nunca me estimulou a nada. Um verme preguiçoso na cadeira. Quer dizer, não é preguiçoso, é desesperançado demais para achar que se mexer vai trazer algo além de mal para sua vida. De onde você tira todo esse pessimismo? Isso me faz mal, sabia? Meio que me deprime também e eu sou tão feliz, você não podia...Pelo menos, devia se esforçar por mim, mas se nem por você, imagina por outro...

Você roubou alguns anos da minha vida, sabe? Desde que estou com você me sinto velha e cada vez mais. Esgotou-se a minha energia, eu não canto mais quando acordo. Você percebeu? Claro que não. Eu cantava, eu acordava cantando e agora não. Sinto vontade, sim, é de dormir para sempre e viver num mundo no qual você nunca existiu, no qual não tem ninguém para me censurar e cercear a minha alegria expansiva.

Patético é o que você é. Um garotinho indeciso, medroso, tão cauteloso que esqueceu de fazer alguma coisa. Acabou fazendo o nada da sua vida, não é? E quer isso para mim também, podia, ao menos, tentar parar com, mas não: não desloca nunca sua massa neurótica por mim. Ainda implica comigo. Sou impulsiva, sim, e, se não fosse, estaríamos parados naquele sofá, olhando, envergonhados, um para o outro, até hoje. Eu fiz o relacionamento andar. Acho que nem posso reclamar de você, não é mesmo? Eu que procurei a minha destruição.

Aquele copo que você quebrou na casa dos seus pais: disse que fui eu e a retardada aceitou porque achava que tinha de te acobertar já que você não era forte o suficiente. Você montava em cima de mim, em cima da minha coragem. E, quer saber, acabou que eu não te fiz bem nenhum e você só me deu dor nas costas.

Porque o nosso amor é como planta no asfalto, não é? Não dá coco, nem fruta, nem florzinhas mixurucas. E aí, a gente não sacia a sede nem a fome e nem tem beleza para se iludir com. Nunca estamos bem, sempre necessitados.

Aquele maldito colar foi tudo o que você conseguiu me oferecer, não é? Porque, hein? Para que eu nunca esquecesse de você, não é? Para que toda porra de momento em que eu me olhasse no espelho, eu te visse ali também. Você me queria toda para você, tanto que, até quando eu estava sozinha, você estava lá, dava um jeito de estar, e colado em mim, no meu pescoço. Isso é doentio, você não tem vergonha?

Mas aquele dia na praia foi bonito, não foi? As ondas estapeando nossos tornozelos, o sol se transformando em montanha... senti que podia morrer ali ou viver pra sempre aquele momento, como uma morte pro resto do tempo. Senti afeto, segurança, senti a vida, sabe? Tudo mais perdeu o sentido e só tinha senso era você perto de mim, apertando a minha mão.

Será que acabou mesmo, meu amor? Não consigo entender viver sem você. Sim, sim, sim, às vezes, eu não compreendo porque viver com você, mas, no final, não somos mais duas pessoas como antes, entende? Nos imiscuímos demais. É como se você fosse eu também e, se você se for, eu vou sentir falta de mim. Um amálgama. Acho que é por isso, meu querido. Como vou ficar sem mim, então como ficar longe de você? Nos aproximamos demais, chegamos muito perto, que trocamos partes e agora você tem coisas que eu não tenho mais e eu, as tuas.

Mas, e agora, querido? Eu sei que se decidirmos partir, só vou me lembrar do que você levou com você: o meu sorriso solto, meu amor controverso, minha concepção de afeto! Mas, e aí ?, se você ficar, e tudo voltar com você, vem junto o seu medo, os seus quadros feios, seu gesticular irritante... E agora, meu amor, e agora? Estou com tanto medo, tanto medo de ficar sozinha, sem você e sem mim, totalmente abandonada. Me abraça, sopra o meu pescoço, diz que vai ficar tudo bem, por favor, querido, me ajuda, preciso tanto de você.

Talvez, eu aprenda a ser eu de novo. Sei lá, depois de um tempo, eu devo voltar ao normal, sendo o normal o eu pré-você. Talvez, haja uma chance para nós dois vivermos inteiros por aí. Mas parece tão difícil e tão impossível. Você não sente isso também? Já era, querido. Não existiu um eu antes de você, entende? Era só uma semi-existência. Não há vida sem o seu braço no meu ombro, seu “bom dia” agradável, seu “eu te amo” verdadeiro. Estamos conectados para sempre, eu e você, nesse mundo que só existe quando olhado pelos dois ao mesmo tempo. Verei a sua velhice e você a minha e a eternidade será o nosso último destino. Sim, apesar dos problemas, que já sabemos quais, virem a surgir, apesar da dor que sabemos que virá nos violentar, apesar de tudo, meu amor, apesar de apesar. Sim, sim, sim, querido; sim, sim, sim, eu.

6 comentários:

Unknown disse...

ruiva....

eu já tinha lido esse texto! hah!

capaz q eu ainda TENHA esse texto....

talento pouco é bobagem hein?

vo tratar de ler isso aqui regularmente. assim a gente tem algum contato!!

sucesso!

Everaldo Ygor disse...

Olá...
Uma cronica do cotidiano, intensa demais, desbafo para os dias, para os amores ou paixões que nos fazer sofrer e crescer, no eterno ciclo da Roda de Sansara, de nascimentos e mortes, enfim renascimentos na surreal arte de escrever...
Abraços
Everaldo Ygor
Visite:
http://outrasandancas.blogspot.com/

Natty disse...

sem palavras!

=*

flora egecia disse...

menina,ta indo de vento em poupa einh seu blog, fico feliz, não tenho acompanhado, mas depois passo com calminha.

beijão, d asua fofógrafa.

J. Lara disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
J. Lara disse...
Este comentário foi removido pelo autor.